Se todos fossem sinceros e transparentes como se mostram nas redes sociais, certamente o mundo seria um lugar incrível, concorda? Peço desculpas se esta mensagem parece um pouco pesada, mas não consegui encontrar outra maneira de iniciar este texto. Essa atitude é chamada de hipocrisia.
A honestidade e a sinceridade diante de nossos próprios princípios e valores parecem perder importância nos dias de hoje; o que realmente importa é a percepção dos outros, como lidamos com suas expectativas e o quanto fingimos para sermos aceitos.
Uma possível explicação para essas escolhas pode ser a dureza da realidade, refletida na falta de perspectivas que a vida impõe. Diante disso, criar e viver em uma realidade paralela, mais colorida, parece ser a saída ideal para “confortar” e “suavizar” as coisas.
Entretanto, essa é uma ilusão. Toda escolha tem um preço e uma consequência. O preço a ser pago geralmente é subestimado, enquanto a consequência nem mesmo é considerada. O mundo paralelo se torna uma obrigação diária, e isso começa a afetar aquilo que realmente importa: a vida real.
A história consiste em impressionar e criar laços emocionais através de momentos mágicos, atitudes sensatas e storytelling empírico. Muitas pessoas constroem para si verdadeiros “discursos de venda” e utilizam as redes sociais para criar uma persona que deveriam ser fora do alcance dos outros olhares.
Não pretendo generalizar, pois seria irresponsável, mas é cada vez mais comum perceber a “fabricação” de momentos, sensações, experiências e reações. A linguagem, cada vez mais visual e efêmera, acaba tornando as “amizades” superficiais; cada um de nós possui tantos “amigos” quanto deseja. Isso não parece estranho?
A liberdade de postar o que quisermos, algo fantástico do ponto de vista do controle absoluto do que pensamos e compartilhamos, acaba sendo trocada pela “liberdade vigiada”, na qual julgamos e somos julgados mais pelo que compartilhamos ou mostramos, do que pela nossa verdadeira essência.
O curioso – ou óbvio – é que isso se torna um ciclo vicioso: julgamos os outros pelo que postam ao mesmo tempo em que alteramos o que (e como) postamos para “agradar” e “impressionar”; através das redes sociais, julgamos e mentimos mais, enquanto anseiamos por menos julgamento e mais autenticidade.
O custo de agirmos de forma cada vez mais centrada na imagem e nas falsas impressões é alto e diversificado: ansiedade, angústia, incapacidade de lidar com a frustração, depressão e ruína financeira são algumas das consequências.
Tenho certeza de que você consegue perceber como uma vida virtual desconectada da realidade pode trazer efeitos nocivos para todos, principalmente para a família e pessoas próximas, por isso meu foco será no aspecto financeiro (objeto deste espaço).
Manter aparências e criar situações/momentos capazes de impressionar os outros quase sempre envolve dinheiro. Roupas de marca, viagens, carros, lugares sofisticados a serem frequentados, o consumo é hoje uma extensão do estilo de vida a ser promovido, se não o próprio estilo de vida para uma grande parcela.
Dívidas, portanto, são uma constante na vida daqueles que se vendem como uma caricatura, o que significa pagar caro para manter um status não natural, fabricado a partir de muita competição de egos e nenhuma relação suficientemente íntima e de amor genuíno – e, portanto, incapaz de enfrentar a verdade do que realmente ocorre ali.
Essa ideia de se mostrar através do consumo não é de forma alguma nova. O “somos o que compramos” talvez seja a grande “descoberta” da economia do século passado. Migrar da necessidade para a emoção, do essencial para o subjetivo, fez as pessoas alimentarem sonhos, o que é bastante interessante.
Se sonhar é importante, criar falsas expectativas e alimentar utopias de consumo pode ser desastroso – e a linha entre essas duas realidades costuma ser tênue e muito fácil de cruzar. O aspecto mais importante da educação financeira que funciona é ser fiel aos seus objetivos, mas para isso é necessário saber exatamente o que se deseja.
Fingir, portanto, é perigoso, pois faz o tempo passar enquanto nos afasta de nossos verdadeiros sonhos, eliminando no processo dois recursos finitos e escassos: tempo e dinheiro.
Todo mundo realmente precisa se tornar a celebridade de seus seguidores? Vale a pena abrir mão do que realmente desejamos e de nossa essência para agradar aos amigos cada vez mais exigentes? É válido trocar prioridades por boletos intermináveis para impressionar apenas por um fim de semana, talvez um mês?
A “febre da aprovação” e a hipocrisia são colegas inseparáveis e só prosperam em ambientes nos quais a falta de prioridades tornou-se a norma (mesmo que não seja uma escolha deliberada, o que também é uma decisão).
Por que cada vez mais pessoas buscam refúgio em obras, vídeos e dramas que envolvem escolhas difíceis e decisões transformadoras? Porque, felizmente, sabem que o problema reside em retomar a fidelidade ao “Eu”; a má notícia é que esse caminho é profundo.
Por que não fazemos mais as coisas que nos fazem felizes e menos aquelas que os outros esperam de nós? Não tenho a menor ideia de como responder a essa pergunta. Arriscaria dizer que definir e respeitar as prioridades são atitudes “fora de moda”, pois não ganham tanto destaque quanto gostaríamos, especialmente nas redes sociais.
Pode ser que um tema como esse pareça deslocado em um site que trata de finanças pessoais, dinheiro e investimentos, no entanto, é precisamente o contrário. O dinheiro é uma forma de cidadania, e pessoas incompletas e vulneráveis não conseguem proteger suas finanças (e emoções financeiramente destrutivas).
Logo, lidar com nossos sonhos, delimitar nossas capacidades e aprender a lidar com as frustrações são essenciais para evitar cair na armadilha do “Mundo Mágico de Moranguinho”. Essas ações certamente facilitarão o controle financeiro e a conquista de objetivos relacionados ao dinheiro.
O tom denso e pesado deste texto pode tê-lo deixado um pouco desconfortável, ou até irritado. Sua ferida é também a minha; é a ferida de todos nós, em um mundo cada vez mais superficial e com indivíduos buscando aprovação em todos os cantos.
Espero que a reflexão apresentada faça você refletir sobre como tem utilizado seu tempo e dinheiro; espero sinceramente que você os utilize cada vez mais para alcançar a realização e se aproximar das pessoas que ama.
Na realidade, espero que sejamos capazes de respeitar nossas verdadeiras prioridades neste mundo cheio de pessoas querendo defini-las por nós. Não será fácil, mas com certeza será gratificante. Que assim seja.

Formado em Sistemas para Internet
Apaixonado por finanças