Uma análise do BTG Pactual sobre o impacto das apostas no mercado de educação superior no Brasil revelou uma nova preocupação para o setor. Os analistas Samuel Alves, Yan Cesquim e Marcel Zambello destacam que a popularidade crescente das plataformas de apostas e jogos de azar está influenciando diretamente as decisões dos jovens em relação à continuidade ou início dos cursos de graduação, especialmente em famílias de baixa renda.
Com a indústria de apostas movimentando cerca de R$ 100 bilhões em 2023 no Brasil, representando aproximadamente 1% do PIB, a quantidade de recursos desviados para apostas está impactando o planejamento financeiro de muitos brasileiros, especialmente aqueles que poderiam investir em educação.
A pesquisa conduzida pela Educa Insights aponta que aproximadamente 35% dos potenciais estudantes desistiram da ideia de ingressar em uma graduação em 2024 devido a compromissos financeiros com jogos de azar.
A situação é ainda mais preocupante entre as famílias de baixa renda. O estudo revela que, entre os indivíduos com renda mensal de R$ 2,4 mil, 39% abandonaram a ideia de iniciar seus estudos devido aos gastos com apostas. Em faixas de renda mais baixas, como aqueles que ganham cerca de R$ 1 mil mensais, esse número aumenta para 41%. Estes dados evidenciam a relação direta entre a ascensão da indústria de apostas e o adiamento dos planos de educação.
Os analistas do BTG observam que o impacto das apostas vai além das decisões individuais. O setor de educação, especialmente o ensino a distância (EAD), enfrenta um desafio crescente na captação de alunos, com a competição se intensificando e as empresas adotando uma postura mais agressiva. A influência das apostas torna esse cenário ainda mais desafiador, ampliando as dificuldades financeiras que já afetam o setor.
Além disso, as apostas representam uma parte significativa das despesas com lazer nas famílias de baixa renda, chegando a 76% desses gastos, segundo a PwC. A priorização dos gastos com apostas em detrimento dos investimentos em educação sinaliza um risco crescente para o mercado de ensino superior, que já está sujeito a maior regulação e pressão financeira.
Os analistas do BTG alertam que apesar do cenário preocupante, a tendência é de crescimento contínuo nas apostas no Brasil, o que aumenta a preocupação no setor educacional. Eles recomendam que as empresas do setor revisem suas estratégias de captação e adaptem suas ofertas para atrair estudantes que estão enfrentando essas novas barreiras financeiras.
Embora haja oportunidades no setor, o BTG Pactual destaca a Ânima (ANIM3) como a melhor escolha devido à sua menor exposição ao EAD e melhores perspectivas de desalavancagem financeira. A empresa é vista como capaz de se destacar no cenário atual, com fundamentos mais sólidos em comparação com outros players do mercado.
No entanto, a análise é cautelosa em relação ao mercado como um todo. Com balanços alavancados e uma concorrência cada vez mais acirrada, as empresas de educação terão que demonstrar que seus fundamentos são sustentáveis em meio a um ambiente econômico e regulatório desafiador. Além disso, as taxas de juros elevadas continuam representando um risco significativo para o setor.

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